"Desafios da Logística na Distribuição de Insumos Agropecuários" é o tema abordado por Matheus Alberto Cônsoli, Rafael Vieira e Fábio Delsin, dando continuação a sequência de artigos.
Continuando essa sequência de artigos sobre os desafios na distribuição de insumos agropecuários, neste traremos para reflexões sobre a quarta pergunta: Como está sendo o gerenciamento de riscos de armazenagem e transportes de cargas na distribuição de insumos? Quem atua no mercado logístico com certeza já deve ter se deparado com alguma restrição operacional por alguma orientação de gerenciamento de risco (GRIS), seja na armazenagem ou no transporte rodoviário de cargas. Muito difundido na área de logística, o GRIS trata-se de um conjunto de medidas preventivas de gestão do risco e segurança para tornar a gestão de armazenagem segura e o transporte de mercadorias menos vulnerável enquanto em trânsito. Esta necessidade de medidas de segurança tem uma razão para acontecer no dia a dia nas movimentações de mercadorias, principalmente na entrega de produtos industrializados como: alimentos, bebidas, medicamentos, cosméticos, pneus, peças e autopeças, produtos químicos, eletroeletrônicos, calçados e vestuários. Estes eventos de roubos de cargas ocorrem nos grandes centros urbanos, porém há um crescimento no interior e nas principais rodovias do país. Somente no ano de 2021, o roubo de cargas no Brasil gerou um prejuízo financeiro na ordem de R$ 1,3 bilhão. Trata-se de um problema crônico nas principais regiões do país que ainda impacta muito os custos logísticos totais, tornando o GRIS necessário e muito exigido pelas companhias de seguros para ajudá-las a contornar os altos riscos envolvidos. No Agronegócio não é diferente, nos últimos anos vem aumentando o número de ocorrências em vários tipos de carga, geralmente as mercadorias de alto valor agregado, como defensivos e sementes. Já se tem relatos também de roubo e desvio de açúcar, soja e milho em função da elevação dos preços das commodities agrícolas devido à conjuntura atual e à crise econômica mundial. Neste contexto, o mercado de seguros de transportadoras e embarcadores tem aumentado a quantidade e o nível de restrições e condições mínimas na cobertura dos riscos em transportes de cargas no Agronegócio. Há seguradoras que dependendo do tipo de carga, segmento e/ou região declinam de participar de projetos de cobertura de armazéns e cargas, pois o grau de risco é muito elevado e a qualidade da apólice será deficitária no final da cobertura segurada. Um roubo ou desaparecimento de carga geram enormes prejuízos para toda a cadeia, desde o cliente final ficar sem a matéria-prima ou insumo para produzir, até onerar muito os custos com o risco e do valor agregado do frete. No Agronegócio, o add valorem (Seguro + GRIS) cobrado pelas transportadoras gira entre 0,10% e 0,20% do valor da mercadoria transportada, que pode representar de 5% a 10% no valor do frete final cobrado no CT-e (Conhecimento de Transporte Eletrônico). Sabemos que a atividade de transporte de cargas é a mais vulnerável a riscos. Embarcadores, transportadoras e seguradoras precisam trabalhar integrados buscando manter a viabilidade operacional de forma inteligente usando o GRIS para evitar prejuízos. Há no mercado empresas especializadas em gestão de riscos com profissionais altamente capacitados que se baseiam em inteligência de dados e que com o uso da tecnologia criam estratégias preventivas de segurança, permitindo que a partir de informações precisas e confiáveis consigam identificar, administrar e prevenir riscos inerentes à sua atividade. Como exemplo, historicamente existe um aumento significativo de ocorrências, principalmente de roubo e furto de cargas, que estão concentrados em determinadas regiões ou pelo tipo específico de mercadorias. Para mitigar e restringir a ação de quadrilhas especializadas, alguns produtos para serem transportados e segurados possuem limites de valor embarcado como uma forma de diluir o risco, outras ações como obrigatoriedade de rastreamento via satélite, escolta e cadastro de motoristas, restrição de viagem noturna, entre outras também existem nesse sentido. Obviamente, todo este conjunto de restrições reduz a disponibilidade de caminhões e, consequentemente, aumenta o custo final do frete pago pelos embarcadores, o que impacta no preço final do produto pago pelos consumidores. Uma operação logística que não considera a importância de um plano de gerenciamento de riscos no transporte, tanto no embarcador como na transportadora, pode gerar situações complexas como: não entrega de pedido a clientes; impossibilidade de localização do veículo e das cargas com a falta de inteligência logística; resultado financeiro deficitário e perda de credibilidade diante do mercado, em caso de roubo de mercadorias; avarias e desaparecimento de mercadorias, que também podem prejudicar a imagem da empresa dentro do setor que atua; falta de conhecimento da legislação do setor de transporte, que pode impactar em multas e, eventualmente, em apreensões do veículo ou da carga transportada. O embarcador que pensa somente em pagar o add valorem para a transportadora no valor do frete sem entender como funciona a dinâmica do mercado de seguros pode estar transferindo o risco a um terceiro sem saber os impactos no negócio em uma eventual ocorrência de sinistro, além de estar deixando dinheiro na mesa por não conhecer que aquela ‘pequena’ fração do valor do frete pode representar um valor relevante na conta frete como um todo. Cada vez mais os embarcadores estão internalizando o seguro de transporte de cargas por entenderem que podem usar a escala de outras coberturas de riscos já existentes como: propriedades, estoques, veículos e funcionários, com condições diferenciadas de valor de prêmio junto às seguradoras. Neste contexto, os profissionais que contratam seguros nas empresas precisam entender a dinâmica do mercado logístico, podendo utilizar de terceiros como consultoria em riscos logísticos para suporte no entendimento das oportunidades e conexão da segurança das operações logísticas ao posicionamento estratégico da empresa. No ambiente de negócios agropecuários estamos diante de muitos riscos que devidamente mapeados e mitigados podem reduzir a exposição, sendo controlados e não comprometendo a geração de negócios. Seja na indústria de insumos, distribuidores, fazendas, agroindústria e distribuição de alimentos, sempre haverá necessidade de movimentação logística, tanto de armazenagem como de transporte, que sempre irá requerer gerenciamento de riscos com a contratação de seguro por parte dos embarcadores, direta ou indiretamente, independente se o transporte seja efetuado por veículos próprios ou transportadoras. Sendo assim, finalizando a discussão deste tema, entendemos que a gestão de riscos dentro da logística do Agronegócio é uma necessidade que cresce a cada safra em todos os segmentos, tendo o controle e a mitigação de riscos um papel estratégico nos resultados das empresas envolvidas, principalmente com o crescimento dos preços das commodities e os volumes de produção recordes, fazendo as demandas de fretes crescerem ano após ano no Brasil. No próximo artigo, fechando esta série, abordaremos como o custo logístico total com a indústria e distribuidores (revendas e cooperativas) pode assegurar a eficiência operacional até a chegada dos produtos no produtor rural. Pense nisso, converse com seus times de logística e finanças, e bom trabalho a todos!