O Cenário Econômico e os Desafios de Crédito e Financeiros dos Distribuidores de Insumos

Rodrigo Alvim Afonso, faz uma reflexão sobre o atual cenário econômico e os desafios de crédito e financeiros dos distribuidores de insumos.

O Cenário econômico do País veio melhorando ao longo do ano de 2017, e diversos fatores podem ajudar a explicar esta melhoria, porém, existem alguns que acabam aparecendo com mais frequência nas discussões dos economistas.

Segundo alguns economistas, os profissionais do Mercado financeiro e empresários acreditam que o governo brasileiro conseguiu identificar de forma correta as raízes ou causas dos problemas econômicos do país, e que este governo está discutindo corretamente as medidas para a solução do problema, por isso o mercado, sinalizou uma retomada na confiança no País, fato este que ajudou para termos em 2017, indicadores econômicos melhores, como por exemplo queda na inflação, e taxas de câmbio um pouco mais estáveis (se é que isso é possível no Brasil). com este cenário uma importante medida de estímulo econômico pôde ser tomada, que é a redução da taxa básica de juros, que teve uma queda acentuada neste ano saindo de 14,25% em setembro de 2016 para 7,5% em outubro de 2017 segundo dados do Banco central.

Mas para 2018 qual será o cenário? Esta é uma pergunta bastante difícil, pois apesar de termos tido um ano de 2017 com bons avanços nos indicadores econômicos (comparado com o que vivenciando nos últimos anos), temos que lembrar, antes de mais nada, que 2018 será um ano eleitoral no Brasil, e que apesar de o mercado financeiro estar depositando confiança nas ações do governo Brasileiro, as reformas essenciais para que o desequilíbrio fiscal seja sanado ainda não foram aprovadas pelos nossos governantes.

Sendo assim temos as seguintes possibilidades para o próximo ano: podemos continuar seguindo com melhoria nos indicadores econômicos e avançando gradualmente com as medidas para solucionar o desequilíbrio fiscal, retomando o crescimento econômico e continuando a perceber melhorias nos indicadores econômicos, porém temos que tomar cuidado, pois em ano de eleição pode faltar “vontade” política por parte dos nossos governantes para realizar as ações necessárias, ademais, em ano de  eleição há sempre a possibilidade de que o governo aumente seus gastos com medidas eleitoreiras para seus parceiros políticos, o que prejudicaria ainda mais o equilíbrio fiscal.

Um desafio que vivenciamos de perto nos últimos anos foi a escassez de crédito e o alto custo deste capital, que desestimulou investimentos por parte dos empresários. Este problema tem como uma de suas causas prováveis o ambiente institucional brasileiro, que não oferece segurança para recuperações de dívidas e execuções eficientes das garantias.

Neste cenário 2018 traz alguns desafios para o distribuidor de insumos que precisará estar atento a duas temáticas centrais relevantes, Gestão Financeira e Gestão de Crédito.

Focos de trabalho e atenção na gestão financeira em 2018:

 Com a redução das taxas de juros algumas linhas de crédito com custo mais baixo já estão disponíveis para as empresas, contudo, ainda há uma boa parte das empresas do setor com captações de recursos a juros bastante elevados, neste sentido, uma boa gestão de tesouraria, e acompanhamento de perto do custo de capital de terceiros é bastante significativa e pode ser o diferencial competitivo dos canais de distribuição.

Como atividade importante vale citar a administração do relacionamento com bancos, ainda vemos no mercado uma boa parte das empresas se relacionando com apenas um ou dois bancos, ficando restrita às condições de captação/ investimento oferecida por esta instituição, que nem sempre está com as melhores ofertas, por isso diversificar o relacionamento pode ser importante e deve ser estudado caso a caso

Investir na estruturação e desenvolvimento dos controles financeiros para buscar melhoria do rating de crédito junto as instituições financeiras, para viabilizar o acesso às linhas de financiamento de custos mais baixos;

 Acompanhamento dos níveis de alavancagem e necessidade de capital de giro da empresa, para programar de maneira mais efetiva as captações de recursos, buscando mais eficiência na gestão dos recursos de terreiros.

Focos de Atenção para a Gestão de crédito:

Mesmo com uma boa safra de grãos no Brasil no ano de 2017 (em geral), foi possível perceber uma grande parte dos produtores rurais atrasando o pagamento das contas junto aos distribuidores, e a principal justificativa apresentada pelos produtores para o não pagamento da conta foi o preço das commodities agrícola que estavam baixos, e por isso o produtor não estava interessado em vender sua produção naquele momento. Mas esta ação somente ocorre, pois, a postura dos distribuidores, muitas vezes permite e “estimula” este tipo de comportamento por parte do produtor.

Desta Forma, o distribuidor precisa dedicar uma atenção especial à revisão de sua política de crédito principalmente com relação aos seguintes aspectos:

Política de cobrança de juros: o distribuidor precisa compreender que sua operação é semelhante à de um banco, onde eles captam recursos junto com os fornecedores na forma de produto, e decidem para quem conceder este crédito por meio das vendas a prazo.

Sendo assim, é relevante manter uma atenção quanto às taxas de juros que estão sendo utilizadas nas compras a prazo, e a taxa de juros que o distribuidor está cobrando dos seus clientes (produtores) cobrar um SPREAD (diferença nas taxas de juros de captação versus taxa de juros dos empréstimos concedidos) é fundamental para remunerar o risco envolvido nas situações de empréstimos

Outro ponto relevante é a definição dos juros cobrados das contas em atraso, é importante o distribuidor ser claro e rigoroso quanto a esta cobrança, colocando taxas altas para a cobrança de contas em atraso, pois este é um dos pilares que ajudará a moldar o comportamento do agricultor evitando que ele decida não honrar seus compromissos para especular mais tempo no mercado.

Por fim, a política de garantias também deve ser muito bem pensada, apesar da insegurança jurídica e da fragilidade das garantias no Brasil, os distribuidores que possuem boas garantias tem mais ferramentas para cobrar e pressionar o cliente para que ele honre com seus compromissos.

Enfim, estamos em um momento econômico para o Brasil que pode ser muito bom, ou muito ruim a depender do que acontecerá em 2018, mas uma coisa é certa, é o momento para o distribuidor de insumos rever algumas de suas práticas de Gestão Financeira e de Gestão de Crédito, e aproveitar os benefícios das melhorias dos indicadores financeiros, ou se preparar para as possíveis turbulências que o cenário de eleições pode provocar na economia Brasileira.

Artigo publicado na revista AgroRevenda edição 70

E-mail: ralvim@markestrat.com.br
Especialista em Planejamento Estratégico, Canais de Distribuição de Insumo, Gestão Financeira de Empresas e Produtores Rurais e Análises de Investimentos. Mestre em administração de Empresas pela FEARP/USP. Pós-Graduado em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV-SP. Administrador de Empresas pela Faculdade COC.