Roberto Fava Scare e Leonardo Silva Antolini dão continuidade na sequência de artigos sobre o contexto das decisões de compra, neste artigo falam sobre o perfil do produtor rural brasileiro.
Apesar de atuarem no mesmo ramo da economia, a produção agropecuária, os produtores rurais têm perfis muito diferentes. As estratificações mais usuais levam em conta o tamanho da fazenda, região geográfica e o cultivo principal. A seguir tem-se os resultados de algumas pesquisas realizadas no Brasil durante os últimos anos para exemplificar algumas variáveis que podem ser utilizadas para traçar o perfil do produtor rural brasileiro.
Grande parte dos produtores rurais brasileiros tem mais de 35 anos e grande experiência no negócio. Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Marketing e Agronegócios (ABMR&A, 2009) 74% dos produtores rurais brasileiros tem mais 36 anos. A distribuição da faixa etária do produtor rural brasileiro é mostrada na Tabela 1.
| 
			 Faixa Etária  | 
			
			 Safra 2008/09  | 
		
| 
			 18 a 25 anos  | 
			
			 6%  | 
		
| 
			 26 a 30 anos  | 
			
			 9%  | 
		
| 
			 31 a 35 anos  | 
			
			 10%  | 
		
| 
			 36 a 40 anos  | 
			
			 13%  | 
		
| 
			 41 a 50 anos  | 
			
			 26%  | 
		
| 
			 51 a 60 anos  | 
			
			 19%  | 
		
| 
			 Mais de 60 anos  | 
			
			 16%  | 
		
Faixa Etária do Produtor Rural Brasileiro - ABMR&A, 2009.
Além disso, os resultados da pesquisa da ABMR&A (2009) mostram que a maioria dos produtores brasileiros tem experiência de mais de 10 anos no negócio: cerca de 80% há mais de 10 anos na atividade, 18% entre 5 e 10 anos e 2% há menos de 5 anos. Para alguns produtores, o elevado nível de experiência pode criar certa resistência na busca de informações, aceitação de novos produtos e soluções integradas.
| 
			 Tempo na atividade  | 
			
			 Safra 08/09  | 
		
| 
			 Exploram / Criam a mais de 10 anos  | 
			
			 80%  | 
		
| 
			 Exploram / Criam entre 5 e 10 anos  | 
			
			 18%  | 
		
| 
			 Exploram / Criam a menos de 5 anos  | 
			
			 2%  | 
		
Tempo na Atividade Produtor Rural Brasileiro - ABMR&A, 2009
Os produtores estão se tornando cada vez mais informados sobre aspectos técnicos e de gestão, devido a aumento da competitividade no setor e a desafios de sucessão. A pesquisa da OCB/Fiesp (2013) revela que 42,8% dos produtores entrevistados tem ensino superior completo, o que pode sugerir que os produtores estão se tornando mais informados. Além disso, a mesma pesquisa revelou que 48% dos filhos dos produtores que participam do dia a dia da atividade tem formação superior em agronomia, o que sugere tendência de sucessão familiar nestes negócios rurais.
| 
			 Grau de Escolaridade  | 
			
			 Safra 2012/13  | 
		
| 
			 Analfabeto / Ensino Fundamental I Incompleto  | 
			
			 10,1%  | 
		
| 
			 Ensino Fundamental I Completo  | 
			
			 10,1%  | 
		
| 
			 Ensino Fundamento II Completo  | 
			
			 13,2%  | 
		
| 
			 Ensino Médio Completo  | 
			
			 19,2%  | 
		
| 
			 Superior Incompleto  | 
			
			 4,7%  | 
		
| 
			 Superior Completo  | 
			
			 42,8%  | 
		
Tabela 3 – Grau de Escolaridade do Produtor Rural Brasileiro (OCB/Fiesp, 2013)
Grande parte dos produtores tem a condição de propriedade da terra, mas o número de terras arrendadas segue crescendo em determinadas regiões, devido à expansão horizontal de algumas propriedades. Resultados da pesquisa da ABMR&A (2009) mostram que a estrutura de propriedade da terra tem 78% de produtores proprietários, 11% arrendatários e 11% em condição de proprietário e arrendatário. Os tamanhos das propriedades variam de acordo com o tipo de cultivo ou rebanho e estão relacionados com região de atuação. Além disso, a estratificação das amostras das pesquisas da ABMR&A (2009) e OCB/Fiesp (2013) mostram quais podem ser os segmentos de tamanho por cultivo por e regiões do Brasil.
| 
			 Cultura / Rebanho Hectare ou N. Cabeças - Safra 2008/09  | 
			
			 Pequeno  | 
			
			 Médio  | 
			
			 Grandes  | 
		
| 
			 Algodão  | 
			
			 10 < 20  | 
			
			 20 a 50  | 
			
			 > 50  | 
		
| 
			 Arroz Irrigado  | 
			
			 < 50  | 
			
			 50 a 100  | 
			
			 > 100  | 
		
| 
			 Batata  | 
			
			 < 20  | 
			
			 20 a 100  | 
			
			 > 100  | 
		
| 
			 Café  | 
			
			 < 20  | 
			
			 20 a 50  | 
			
			 > 50  | 
		
| 
			 Cana-de-Açúcar  | 
			
			 < 200  | 
			
			 200 a 2000  | 
			
			 > 2000  | 
		
| 
			 Citros  | 
			
			 < 50  | 
			
			 50 a 100  | 
			
			 > 100  | 
		
| 
			 Feijão  | 
			
			 < 20  | 
			
			 20 a 50  | 
			
			 > 50  | 
		
| 
			 Milho (RS SC PR BA MA PI TO RO)  | 
			
			 < 10  | 
			
			 10 a 20  | 
			
			 > 20  | 
		
| 
			 Milho (SP MG MT MS)  | 
			
			 < 20  | 
			
			 20 a 50  | 
			
			 > 50  | 
		
| 
			 Soja (RS PR SP SC)  | 
			
			 < 50  | 
			
			 50 a 200  | 
			
			 > 200  | 
		
| 
			 Soja (MG MS MT GO BA MA PI TO)  | 
			
			 < 200  | 
			
			 200 a 500  | 
			
			 > 500  | 
		
| 
			 Tomate  | 
			
			 < 20  | 
			
			 20 a 50  | 
			
			 > 50  | 
		
| 
			 Avicultura de Corte  | 
			
			 < 100 mil  | 
			
			 100 mil a 150 mil  | 
			
			 > 150 mil  | 
		
| 
			 Gado de Corte  | 
			
			 < 500  | 
			
			 500 a 2000  | 
			
			 > 2000  | 
		
| 
			 Gado Leiteiro  | 
			
			 < 50  | 
			
			 50 a 100  | 
			
			 > 100  | 
		
| 
			 Suinocultura  | 
			
			 < 1 mil  | 
			
			 1 mil a 5 mil  | 
			
			 > 5 mil  | 
		
Faixas de Tamanho da Pesquisa ABMR&A, 2009. Em hectares e n° cabeças
| 
			 Estado (UF)  | 
			
			 Pequeno  | 
			
			 Médio  | 
			
			 Grande  | 
		
| 
			 PR, SC, RS, SP, MG, ES, PE, AL  | 
			
			 < 100  | 
			
			 101 a 500  | 
			
			 >500  | 
		
| 
			 GO, MS  | 
			
			 < 500  | 
			
			 501 a 3.000  | 
			
			 > 3.000  | 
		
| 
			 PA, MT, MA, PI, TO, Oeste BA  | 
			
			 <1.000  | 
			
			 1001 a 5.000  | 
			
			 > 5.000  | 
		
Faixas de Tamanho da Amostra da Pesquisa OCB/Fiesp, 2013 (em hectares)
Com relação às fontes de financiamento da produção, a pesquisa da OCB/Fiesp (2013) revelou que cerca de 65% dos produtores utiliza capital próprio como principal forma de financiamento. Porém, outras fontes de financiamento citados são bancos oficiais e privados, cooperativas, indústrias de insumos e máquinas, revendas de insumos e empresas compradoras da produção agrícolas. Além disso, a pesquisa mostra que 64% dos produtores entrevistados estão associados a uma cooperativa. Outras opções de financiamento são citadas na pesquisa da ABMR&A (2009): troca por insumos (11%), Cédula do Produtor Rural-CPR (10%), venda antecipada para tradings (6%) e empréstimo pessoal com amigos ou família (3%).
| 
			 Fontes de Financiamento da Produção  | 
			
			 Resposta Múltipla em %  | 
		
| 
			 Capital Próprio  | 
			
			 65,6%  | 
		
| 
			 Bancos Oficiais  | 
			
			 39,8%  | 
		
| 
			 Bancos Privados  | 
			
			 22%  | 
		
| 
			 Cooperativas  | 
			
			 17,4%  | 
		
| 
			 Empresas vendedores de insumos  | 
			
			 13%  | 
		
| 
			 Empresas compradoras de minha produção  | 
			
			 6,5%  | 
		
| 
			 Revendedores de produtos agrícolas  | 
			
			 1,4%  | 
		
| 
			 Empresas vendedoras de máquinas  | 
			
			 0,9%  | 
		
Fontes de Financiamento da Produção OCB/Fiesp, 2013 (resposta múltipla)
Com relação às fontes de financiamento para decisões de investimento, a pesquisa da ABMR&A (2009) mostra que os recursos próprios e linhas de financiamento fomentadas pelo governo são fundamentais para as despesas de investimento e o tipo de linha influencia na decisão do produtor.
| 
			 Fontes de Recursos Utilizadas  | 
			
			 Safra 2008/09  | 
		
| 
			 Recursos próprios  | 
			
			 72%  | 
		
| 
			 Recursos de crédito rural  | 
			
			 35%  | 
		
| 
			 Finame  | 
			
			 17%  | 
		
| 
			 Pronaf  | 
			
			 13%  | 
		
| 
			 Moderfrota  | 
			
			 7%  | 
		
| 
			 Cédula do Produtor Rural (CPR)  | 
			
			 6%  | 
		
| 
			 Consórcio  | 
			
			 6%  | 
		
| 
			 Outras fontes  | 
			
			 3%  | 
		
Fontes de Financiamento de Investimentos ABMR&A, 2009 (resposta múltipla)
Com relação às fontes de informações relacionadas ao negócio, as duas pesquisas (ABMR&A, 2009 e OCB/Fiesp, 2013) revelam que a operação do negócio rural conta auxílio e influencia de terceiros, como agrônomos, zootecnistas e veterinários, empresas de consultoria, gerentes e administradores. A influência também se dá por meio de empresas fornecedoras de insumos, representantes técnicos de venda das indústrias, balconistas das revendas, entre outros. Isto torna a decisão do produtor rural cada vez mais informada e complexa, com a presença de diversos agentes influenciadores.
| 
			 A operação do negócio conta com...  | 
			
			 Resposta Múltipla, em %  | 
		
| 
			 Agrônomos, Zootecnistas e Veterinários  | 
			
			 39,7%  | 
		
| 
			 Empresas de Consultoria  | 
			
			 25,0%  | 
		
| 
			 Gerentes  | 
			
			 22,3%  | 
		
| 
			 Administradores  | 
			
			 19,8%  | 
		
Participação de Terceiros na Operação do Negócio OCB/Fiesp, 2013 (resposta múltipla)
Com base na discussão acima, pode-se assumir que algumas das variáveis descritas podem servir de base para o estabelecimento de modelos de comportamento de compra do produtor rural e segmentação de mercado. Trataremos no próximo artigo sobre o comportamento de compra do produtor rural.


				